segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Quatro cantos e o engano
São rostos enquadrados, quadros com molduras como daquelas prontas pra serem expostas. Meticulosamente pensadas para não decepcionarem nenhum pagante, visitante mais exigente.É bonito, verdade. Acompanho os quatro cantos, vértice, aresta, vértice..Me distraio,quase me apaixono.. Mas meu olhar escapa e eu encontro um nada. Penso que esqueceram de colocar a obra de arte, o começo de tudo, a história, a razão da moldura..Procuro desesperadamente por todas as paredes algum conteúdo que justifique a moldura. As mais lindas molduras, feita das mais delicadas mãos, e as mais caras também. Expostas na mais elegante galeria de arte, vistas pelas pessoas, supostamente, mais interessadas em obras de arte. Quanto engano! Imagino se não há mais obras de arte no mundo em que vivo, ou se existe onde estão escondidas ? Só lindas molduras, sedutoras finalizações de um começo que não existe, apagado pela beleza envolvente do ouro, das curvas ... Só molduras, em todas a paredes. Eu ali no meio de tanto engano, atravesso os corredores, penso não ter escapado, já ter me tornado só moldura... Me assusto com o espelho, mais uma moldura.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
fugaz
Passo curto.Sorriso largo.O tempo é curto e a vontade é muita.Pele, pelos, papo, posso, pego. Apego. Ego pouco, entrega muita. Menos medo, mais mãos. Fica longe aperto vem, fica perto paixão que vem. Acelera, ajusta, tempo de adaptação. Noite cai, vela acesa, noite fria beijo quente. Envolve, seduz, reduz dois a um; dilata os corpos, sossega a alma, aquece o peito. Peitos abertos, jogo aberto: sem jogo. Lento, longo, largo, leve. Ultraleve. Levanta vôo, resiste ao repouso, mas sente o vento vindo forte, fuga. Fugaz. Já faz falta.Então fica.....
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Egoísta
Pra quem vive, há profundidade, perigo. É capaz de conhecer seus limites, seu movimento incansável. Suas nuances, suas belezas e mistérios. Mas na foto o mar é plano, estático, óbvio. O fotógrafo é egoísta, aprisiona o mundo. Basta uma foto e o mar perde o viço. Sua essência é a mesma, mas naquele momento, nas mãos de um qualquer, é apenas mais uma falsa recordação. Uma linda imperfeição. A natureza descontrolada foi domada e desconfigurada. Mas sua essência é imutável e basta outra foto. Click. Outro mar, outros juízos...
E assim o qualquer e o tempo passam...
Me levam estática e prisioneira. Ou acreditam nisso. Na verdade, levaram um momento meu. Eu estou livre, em movimentos incansáveis, seduzindo mais um qualquer para me levar pra casa em uma foto - apenas um momento -, mas não em alma... Será alguém capaz de enxergar além das lentes, entregar sua própria alma ao mar e lançar-se sem pretender recordações? Lembranças pertencem a quem vive e não a quem pretende viver.
E assim o qualquer e o tempo passam...
Me levam estática e prisioneira. Ou acreditam nisso. Na verdade, levaram um momento meu. Eu estou livre, em movimentos incansáveis, seduzindo mais um qualquer para me levar pra casa em uma foto - apenas um momento -, mas não em alma... Será alguém capaz de enxergar além das lentes, entregar sua própria alma ao mar e lançar-se sem pretender recordações? Lembranças pertencem a quem vive e não a quem pretende viver.
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