quarta-feira, 13 de junho de 2012

A melhor versão da vida

Acredito na melhor versão da vida. Aqui, todos os caminhos são legítimos. Os erros aparecem, a gente aprende. A decepções acontecem, a gente cresce. As paixões acontecem, a gente se entrega. As paixões acabam, e a gente aprende a aceitar isso. Deixar chegar, deixar ir embora....... Nessa versão a gente se contradiz, porque é bom desconstruir nossos próprios conceitos. A gente se permite ser humano, enxergar a estranha beleza dos defeitos, a inevitável vida cheia de problemas e dúvidas. A gente conhece o respeito por si próprio, respeita o seu direito ao não, aceita o direito de ser imprevisível. Não se culpa por amar de mais ou amar de menos, não culpa ninguém por uma coisa que só você imaginou. Tudo bem não ser. ( e não sendo como imaginávamos, podemos ser muito mais) É nessa versão de mundo que a gente conhece a coragem. A coragem de desistir, por exemplo. A valentia de não ser. O direito irrevogável de ter medo e não ir. E, quem sabe, se enganar. Ficar é, quase sempre, bem mais difícil. A liberdade de não guardar a chuva, de se molhar. Viver num mundo de feridas sem anestesias. Uma vida sem a obrigação de ser feliz. Sem a cobrança de sorrir pra mostrar que ta valendo a pena. Saborear com leveza ser amado, ter a competência de não engessar um sentimento. A maturidade de não superestimar uma declaração de afeto, a sabedoria de não subestimar o silêncio. Aqui, isso tudo é possível. Chorar pode, fugir pode, ficar pode, falhar pode. Tem lugar pra quem não quer ser invencível. Existe gente disposta a dividir espaços. Dae a gente pode ser, vir a ser, deixar de ser. Deixar viver... Eu escolho essa versão.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Quatro cantos e o engano

São rostos enquadrados, quadros com molduras como daquelas prontas pra serem expostas. Meticulosamente pensadas para não decepcionarem nenhum pagante, visitante mais exigente.É bonito, verdade. Acompanho os quatro cantos, vértice, aresta, vértice..Me distraio,quase me apaixono.. Mas meu olhar escapa e eu encontro um nada. Penso que esqueceram de colocar a obra de arte, o começo de tudo, a história, a razão da moldura..Procuro desesperadamente por todas as paredes algum conteúdo que justifique a moldura. As mais lindas molduras, feita das mais delicadas mãos, e as mais caras também. Expostas na mais elegante galeria de arte, vistas pelas pessoas, supostamente, mais interessadas em obras de arte. Quanto engano! Imagino se não há mais obras de arte no mundo em que vivo, ou se existe onde estão escondidas ? Só lindas molduras, sedutoras finalizações de um começo que não existe, apagado pela beleza envolvente do ouro, das curvas ... Só molduras, em todas a paredes. Eu ali no meio de tanto engano, atravesso os corredores, penso não ter escapado, já ter me tornado só moldura... Me assusto com o espelho, mais uma moldura.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

fugaz

Passo curto.Sorriso largo.O tempo é curto e a vontade é muita.Pele, pelos, papo, posso, pego. Apego. Ego pouco, entrega muita. Menos medo, mais mãos. Fica longe aperto vem, fica perto paixão que vem. Acelera, ajusta, tempo de adaptação. Noite cai, vela acesa, noite fria beijo quente. Envolve, seduz, reduz dois a um; dilata os corpos, sossega a alma, aquece o peito. Peitos abertos, jogo aberto: sem jogo. Lento, longo, largo, leve. Ultraleve. Levanta vôo, resiste ao repouso, mas sente o vento vindo forte, fuga. Fugaz. Já faz falta.Então fica.....

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Egoísta

Pra quem vive, há profundidade, perigo. É capaz de conhecer seus limites, seu movimento incansável. Suas nuances, suas belezas e mistérios. Mas na foto o mar é plano, estático, óbvio. O fotógrafo é egoísta, aprisiona o mundo. Basta uma foto e o mar perde o viço. Sua essência é a mesma, mas naquele momento, nas mãos de um qualquer, é apenas mais uma falsa recordação. Uma linda imperfeição. A natureza descontrolada foi domada e desconfigurada. Mas sua essência é imutável e basta outra foto. Click. Outro mar, outros juízos...
E assim o qualquer e o tempo passam...
Me levam estática e prisioneira. Ou acreditam nisso. Na verdade, levaram um momento meu. Eu estou livre, em movimentos incansáveis, seduzindo mais um qualquer para me levar pra casa em uma foto - apenas um momento -, mas não em alma... Será alguém capaz de enxergar além das lentes, entregar sua própria alma ao mar e lançar-se sem pretender recordações? Lembranças pertencem a quem vive e não a quem pretende viver.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cárcere passional

Entre nós os pudores cínicos que criamos nos aprisionam ao quase. O medo de se entregar e se machucar me apavora e é só nisso que eu penso quando eu não consigo dizer que é com você que eu quero ser mais eu. Entre nós tem um muro cruel que não proíbe o toque, mas inibe a fala e o olhar sincero, destemido - louco pra te invadir, vulgarmente te despir...
Visualizo entre suas tripas o meu amor te expandindo, limpando suas entranhas, curando suas inseguranças, abrindo a sua mente e te libertando: Ilusão. Ficamos, então, na eminência do amor porque não amamos. A ausência da prática do amor entrava os músculos e impossibilita o abraço sincero, o roçar da língua deliciada. Esse amor pela metade, o amor que se limita a um só, não em interessa. Quero amar junto.

sábado, 20 de novembro de 2010

Meus olhos

A paisagem, hoje, acordou diferente. Meus olhos captaram mensagens antes implícitas e embaçadas, hoje escancaradas, claras, muito nítidas.Enxergou mentes clareadas pelo sol do feriado bonito, falas leves que o vento levou a ouvidos dispostos. Mensagens que chegaram a corações desarmados. Desarmados e preparados para um novo pulso. Meu coração recebeu uma nova mensagem, na verdade uma nova freqüência. O que os olhos já haviam encontrado em dias passados, agora chegou ao coração. Aqueceu o espaço frio e esquecido que me pertencera momentaneamente. Já não me importava o que se falava, mensagens bonitas de palavras bem ditas ou o nome dele. José eu já amava, Caio eu já me encantava. E se fosse Manoel eu também já estaria apaixonada. Era a conversa dos olhos, mensagem sem desvios, sem palavras mal colocadas. Era uma conversa íntima, com a distancia exata de corpos estranhos na eminência do primeiro toque. Olhares de rotina entre os olhos dele, que agora meus entram em meus que agora dele. Meu, dele, nosso. Um. Já não importa José, Caio ou Manoel.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Insaciável

O futuro me caça, me procura, me persegue. Corre. O destino digno é ponteiro tresloucado e não espera. O meu destino tem complexo do Ser perecível – não teve tempo para aprender que validade não vale para quem corre contra o tempo. Ponteiros desregulados apontam para onde querem, fazem das datas reféns. Acalma-te, já não sabes pra onde vai, pra onde vou. Te encontro em alguma esquina: cruzamento do acaso da vida e o meu caso de vida. Porque eu corro também, mas atrás de qualquer destino. Preferência exigiria certeza e certeza aprisiona. Sedenta e perdida: digna. Quando ando caçando o futuro com passos previsíveis eu fico mais distante do destino porque quem espera imóvel ganha rugas; futuro previsto já nasce velho. Então ando sem bússola, porque assim cruzo com o inevitável. Corro. Meu destino é esboço de rabiscos e riscos – e passos largos -, com tentativas frustradas de reparos, porque meu destino é flecha.Corre.É vulto.
Então cruzo com um qualquer. Sedenta. Alucinada. Rabiscando o futuro.
É assim. Hoje temos sede, amanhã temos sede e cicatrizes. E depois teremos mais cicatrizes, e mais sede.