terça-feira, 27 de abril de 2010
Esquecidos
Esses dias eu estava procurando incansavelmente uma caixinha. Uma daquelas caixinhas que colocamos as coisas esquecidas, as pessoas perdidas e as distantes lembranças de romances de tarde. Mas ironicamente esqueci onde eu coloquei a caixinha do esquecimento. Procurei, quase que desesperadamente, mas não encontrei. Deve estar perto do amor que eu nunca tive ou da saudade que tenho do que ainda não vivi. Deve estar ao lado dos amores de que tanto falo e de que pouco provei. Deve estar perto das palavras que busco e não alcanço. Deve estar perto de mim e se isso for realmente verdade tenho uma notícia ruim para me dar. Se um dia eu achar essa caixinha, e achar a mim mesmo sofrerei grande risco de voltar a ser sóbria. Minha insanidade que problematiza as coisas simples e me alimenta viciosamente poderá não existir mais.E meus amores também estarão lá do meu lado, perto das palavras que rondo, rondo, e inevitavelmente insisto em rondar. E no dia que eu encontrar as palavras, os meus amores e minhas saudades e a caixinha das coisas esquecidas, não estarei mais perdida. E então minha busca cessará, e estarei plana, linear, previsível, completa. Adjetivos que tirarão minha angústia que tanto prezo. Angústia que faz sentir o friozinho na barriga o arrepio na espinha e que alimenta a busca por mim mesma. E se esse dia chegar e se eu me encontrar, meu Deus, não quero mais viver!
terça-feira, 13 de abril de 2010
A fresta ensolarada do ontem sem amanhã
Mesmo que o tempo passe e até já passou ou mesmo que a gente acabe o que eu guardo é você em mim, seu beijo no meu e nosso olhar perdido. Na verdade, o olhar perdido era o seu, mas me levou contigo e assim não se encontrarão jamais. O último toque antes de ir é como se fosse o primeiro de saudade, porque não tem saudade e não tem adeus. Não tem começo e, talvez por isso, não tem fim. Não tem nada além, nada a ser medido ou vivido ou cobrar o que não se tem. Não espero nada a não ser o próximo beijo seu, e o beijo meu que você guardou em ti. Talvez nem isso eu espere e falar disso até parece falar de flor para quem prefere a dor. Então falarei de flores e as dores se convencerão de que amores não são em vão. E você e eles e eu, talvez, entendamos que não teve amor, nem flor e nem dor. Só tivemos nós dois.
sábado, 3 de abril de 2010
Água fria
Céu azul e as pessoas nas ruas anunciam que o dia é de alegria. Mas o céu pra mim é cinza e minha voz não está assim tão a vontade para anúncios românticos de gentinha de esquina. Ainda assim levanto da cama. Dois pés e alguns calos pelados no chão. A imagem do espelho não é bonita. Nem tampouco bela. "Água fria, menina", se minha mãe estivesse aqui ela diria isso. Como se a temperatura da água fosse curar desilusão. "Água fria não cura, mas esfria a cabeça" ela completaria. Mas eu prefiro ela quente. Como de costume, viajo com as gotas contornando minhas curvas e tentando entender como elas podem seguir aqueles caminhos, tão determinadas, se são apenas gotas. Eu não sei meus caminhos mais bestas e essa gota sabe aonde ir. Com os pés pelados e calejados, mas agora frescos, ando até o quarto para cobrir minha pele clara de maneira cinicamente descente. Minhas partes mais ousadas andam por ai despidas. Mas isso não importa mesmo porque ninguém mais escuta. Depois de colocar minha camisa velha do tempo de escola eu retomo o raciocínio. Filho da mãe! Ele não podia dizer aquilo. Não depois de eu pagar dez sessões de terapia. Ele não podia voltar, e agora eu só penso nele. Vou dar um jeito nisso! Nada como uma ducha fria.
Assinar:
Postagens (Atom)