sábado, 3 de abril de 2010

Água fria

Céu azul e as pessoas nas ruas anunciam que o dia é de alegria. Mas o céu pra mim é cinza e minha voz não está assim tão a vontade para anúncios românticos de gentinha de esquina. Ainda assim levanto da cama. Dois pés e alguns calos pelados no chão. A imagem do espelho não é bonita. Nem tampouco bela. "Água fria, menina", se minha mãe estivesse aqui ela diria isso. Como se a temperatura da água fosse curar desilusão. "Água fria não cura, mas esfria a cabeça" ela completaria. Mas eu prefiro ela quente. Como de costume, viajo com as gotas contornando minhas curvas e tentando entender como elas podem seguir aqueles caminhos, tão determinadas, se são apenas gotas. Eu não sei meus caminhos mais bestas e essa gota sabe aonde ir. Com os pés pelados e calejados, mas agora frescos, ando até o quarto para cobrir minha pele clara de maneira cinicamente descente. Minhas partes mais ousadas andam por ai despidas. Mas isso não importa mesmo porque ninguém mais escuta. Depois de colocar minha camisa velha do tempo de escola eu retomo o raciocínio. Filho da mãe! Ele não podia dizer aquilo. Não depois de eu pagar dez sessões de terapia. Ele não podia voltar, e agora eu só penso nele. Vou dar um jeito nisso! Nada como uma ducha fria.

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