sexta-feira, 14 de maio de 2010

Um assalto muito louco

Dizer que a violência no Brasil é algo alarmante já se tornou clichê. Entretanto, a capacidade de reinvenção nos acontecimentos trágicos – sejam eles morais ou não - é uma arte exclusivamente humana, mas essa semana até o clichê se surpreendeu com a última notícia dos jornais. Seria cômico se não fosse trágico: um assalto dentro de uma delegacia. Diante desse inacreditável acontecimento, fatores como a capacitação dos servidores públicos, a desmoralização da polícia e o processo de desconstrução de valores vivido pela nossa sociedade devem ser analisados.
Projetos de capacitação dos profissionais se tornaram freqüentes promessas políticas e, verdade seja dita, em alguns casos essas promessas são cumpridas, contudo, ainda estamos longe de sermos protegidos por profissionais de alta qualidade. No caso do assalto à delegacia de Salto, interior de SP, a justificativa para a não intervenção na briga entre vítima e assaltante foi, segundo o escrivão, a incerteza de que se tratava de um assalto. Suponhamos, então, que um membro da polícia não tivesse o dever de identificar um assalto, a agressão a uma mulher já não é um motivo plausível para sua intervenção?
Nós inventamos a moral, ou seja, nós mesmos podemos destruí-la. Na verdade, não é assim que pensam os homens quando cometem um ato imoral, mas com certeza o princípio, mesmo que inconsciente, é esse. Entretanto, não é justificável nem tolerável a desmoralização da polícia. Nós, cidadãos, devemos sim respeitar os poderem atribuídos aos policiais; devemos, por conseqüência, respeitar a delegacia, o homem que carrega uniforme, e a hierarquia estabelecida por ele. A liberdade garantida a cada um de nós não deve ser confundida com libertinagem, pois a história conta que para a organização de uma sociedade é necessário sim que haja poderes de intervenção a ela.
Há ainda um fator a ser analisado: os valores da nossa sociedade. Essa discussão é talvez a mais importante, pois é na construção ou na desconstrução desses valores que todos os outros possíveis argumentos são baseados. A casa, enquanto lar, já não tem o mesmo valor semântico agregado a ela há tempos atrás. Podemos entender melhor a frase anterior como a desvalorização da família, mas o que isso tem a ver com um assalto a uma delegacia? Tudo. Se não damos valor ao nosso lar e a nossa família, qual a importância de respeitar o poder público ou uma delegacia, por exemplo? Está na hora de enxergarmos o óbvio.
Não dá mais para culpar isoladamente um cidadão e seu padrão social pelos escândalos noticiados. Quando vamos perceber que somos todos inevitavelmente ligados uns aos outros e a correção de nossos atos falhos devem ser feitos de maneira universal? Ou melhor, quando vamos querer perceber isso tudo? A resposta dessas perguntas não virá em palavras, nem tampouco proferidas por um santo homem. A resposta está entre nós, é só abrir os olhos.

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